2007-01-23

Razões de um voto - 4

De tudo o que tenho lido impressiona-me, sobremaneira, aquele argumento que diz que a gravidez da mulher não é mais que uma questão da sua intimidade, pelo que só ela pode decidir sobre o seu futuro (aliás já cheguei a ler declarações de pessoas de relevância nacional no sentido de apenas ser concedida autorização para votar às eleitoras em referendo sobre o aborto). A sociedade, o estado e a lei reconhecem à mulher determinado tipo de privilégios quando se encontra grávida. Estas prerrogativas nunca foram postas em causa ou se o foram a polémica visava o alargamento de benefícios e não a sua redução. Ou seja, a mulher sempre aceitou partilhar com a comunidade a responsabilidade de estar grávida em troca de auxílio e compreensão, pelo que me parece, no mínimo desleal, o argumento reproduzido. Para melhor se entender a ideia, imaginem uma mulher grávida a chegar ao hospital para ser consultada, examinada ou até para dar à luz e receber como resposta a recusa de auxílio porque aquele não era um problema do hospital, outrossim uma questão da sua intimidade que ela sozinha deveria resolver. Mais, durante a gravidez torna-se extremamente vantajoso que o pai acompanhe a mãe não só com o seu auxílio e presença como também com apoio financeiro quando este é necessário. Poderão os pais neste caso eximirem-se a tal obrigação com o argumento de que é um problema da exclusividade da mulher? É que não é raro tal acontecer e é reconhecida a censura que se efectua (e bem) em tais situações. Tenho para mim que até por aqui, para não voltar a referir que está em causa uma nova vida, a gravidez não é um problema da intimidade da mulher, da sua exclusividade ou da sua consciência.