2007-01-27

Mais uma acha

Há qualquer coisa de errado neste debate sobre o aborto. Não compreendo a relutância do lado do sim em discutir factos científicos. Não compreendo a relutância do sim em apresentar soluções para prevenir o problema. Não compreendo o interesse do sim em discutir questões filosóficas vazias de sentido que pela sua exposição, motivação e objectivos mais não são que verdadeiros sofismas. Aliás, sempre acreditei que, não sendo esta uma verdadeira discussão religiosa ou partidária, estaríamos perante um assunto que deveria aproximar campos normalmente opostos. Sempre pensei que quem tão veemente procura fazer crer que defende intransigentemente o fraco contra o forte, se interessasse pelo mais indefeso dos seres. Sempre pensei que quem tão veementemente procura fazer crer que possui uma ética superior se interessasse pelo valor fundamental para o seres humanos: a vida. Sempre pensei que quem tão veementemente procura fazer crer que está do lado do progresso e da evolução se interessasse pelo via que (basta parar e meditar sincera e honestamente) representa o verdadeiro futuro: a protecção de toda a espécie de vida e em fases cada vez mais precoces. Não compreendo a motivação do sim. Não compreendo essa obsessão em liberalizar sem qualquer critério nem restrição. Não compreendo a defesa que alguém só por ser mulher tem direito à impunidade. Aliás, parece-me que aqui reside o fulcro da questão. A mulher, e apesar do caminho que tem sido seguido para se obter a igualdade humana de direitos, tende a ser um alvo maior da compaixão e a obter dessa forma mais compreensão e indulgência. A tese associada é a mesma que permite pensar-se em quotas e quejandos. Não é justo para os homens e acima de tudo não é justo para as próprias mulheres. A mulher deveria poder afirmar-se por si própria e não por recurso à secretaria. O reconhecimento das suas qualidades deveria fazer-se pelo mérito e não por indulto. A sensação criada é a de um complexo generalizado de culpa por séculos de desvalorização (mais ou menos como se os judeus tivessem hoje o direito de mandar uns milhões de alemães para as câmaras de gás).

Homens e mulheres têm características físicas distintas. Uma delas é a capacidade das mulheres poderem engravidar. Esta possibilidade tem de ser assumida e compreendida para o bem e para o mal. Não é possível a mulher regozijar-se por poder ser mãe e depois cantar a ladainha da desgraça pelo mesmo facto. A gravidez é uma situação especial que requer atenções especiais. Por isso, não choca que se possa ajudar a mulher nessa situação ou a preveni-la quando a não deseja. Isso seria o caminho. Mas, como parece óbvio, essa não é a escolha do sim.

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